"A disciplina antecede a espontaneidade." Emmanuel

04 maio, 2011

Nevoeiro em Nova Iorque

Nova Iorque nesta época fica linda mesmo. Após o rigoroso inverno que assolou a cidade, a natureza dá mostras de sua superioridade e capacidade de regeneração. Em franca recuperação, as árvores antes secas e sem folhas,  mostram sua belíssimas copas frondosas com as cores dos mais variados matizes, trazendo um colorido peculiar, abrigando os pássaros antes escondidos em razão do frio e da neve, que agora voam, brincam no ar e buscam alimento serelepes pela grama verde  com pequenos botões de margaridas amarelas.
Os lagos que antes estavam congelados já permitem o pouso de aves festejando o sol que as aquece. A noite vem rápida como a intensidade dos ventos por aqui. Sempre venta muito por estas bandas! Curiosamente observo algumas poucas e ralas camadas de nuvem se deslocando a baixa altura. Começa a esfriar e a camada de nuvens se intensifica, cobrindo o céu por completo. Mais um pouco e a visibilidade horizontal também começa a reduzir. Este fenômeno é conhecido no âmbito da ciência meteorológica como nevoeiro. O que muitos costumam chamar de serração, neblina. O que na verdade nada mais é do que uma nuvem a baixa altura. O admirável é que os fatores básico para a formação do nevoeiro de radiação – que é o mais comum de ocorrer – são: umidade, baixa temperatura do ar e ausência de vento. Soube depois que tínhamos quase 30kt de velocidade de vento sustentada. E mesmo assim tínhamos uma formação de nevoeiro presente. É como se um banco de nuvens se deslocasse sobre nossas cabeças a incríveis 56 km/h sem se dissipar, compactamente.
Toda a vez que as condições meteorológicas ficam marginais, vale dizer, comprometem as condições de visibilidade horizontal e vertical, entra em ação o que chamamos de low visibility procedure. Procedimento que visa estabelecer padrões especiais de movimentação de aeronaves e viaturas no pátio de manobras aumentando a separação entre elas e preservando as áreas sensíveis dos equipamentos de aproximação de precisão (ILS instrument landing system) – indispensáveis nestas horas – localizados nas cabeceiras das pistas de pouso.
Após os procedimentos de rotina na preparação da aeronave, obtemos autorização para o início do táxi rumo a pista 22R. A visibilidade está bem comprometida. Temos algo em torno de 400m de visibilidade. O táxi da aeronave é feito a baixa velocidade com o auxílio das luxes de taxiway, verdes, localizadas bem no centro. Apesar de estar de noite, seguimos sem utilizar os faróis da aeronave. Em condições de nevoeiro a utilização dos faróis refletindo nas pequenas gotículas de água em suspensão, reduz ainda mais a visibilidade horizontal. É como dirigir nossos carros na serra, com serração e utilizamos apenas os faróis de neblina. No caso de aviões não existem faróis de neblina, seguimos portanto as escuras.
O tráfego intenso no aeroporto Kennedy nos obriga a recalcular a quantidade de combustível necessária. Somos a 25ª aeronave na sequência de decolagem, devemos aguardar no mínimo mais 50 minutos até chegar a nossa vez.
Recebemos a autorização de decolagem. A visibilidade informada é de 400m no primeiro terço da pista, 420m no meio e 380m no fim. Sabemos portanto que será uma daquelas decolagens especiais. Começamos a acelerar e de repente a pista some. O nevoeiro forma bancos que simplesmente “zeram” a visibilidade. Passo a conduzir a decolagem através de minha tela de parâmetros primários de voo, onde a Yaw bar nos dá a informação do centro da pista que não vemos mais. A atenção é total. Não posso deixar a barra de indicação se desviar do centro de meu display. Caso contrário estaríamos fora da pista. Passamos os 180km/h. Preciso de 320km/h para gerar a sustentação necessária para ganharmos o céu. Passamos dos 250km/h e de repente surge a pista de novo. A está altura , apesar da vontade de olhar para fora, tenho que manter toda atenção para os parâmetros internos. Rotate, anuncia o copiloto. Ganhamos o céu. Depois de apenas 200 ft, surge diante de nossos olhos um belíssimo céu cravejado de estrelas, iluminado por uma fraca luz, que a lua em sua fase crescente reflete no espaço. A grandeza do quadro nos induz à contemplação. Guiados não mais por estrelas como no passado, mais agora por GPS seguimos na direção de nossa terra. A constelação de Acruz, popularmente conhecida como Cruzeiro do Sul apesar de não utilizada pelos equipamentos de bordo que nos garantem a navegação. Me dá a certeza de que seguimos no caminho correto. Rumo Sul.


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